quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Diálogo de vultos



- Onde estamos?
- Estamos mortos.

E sem prestar a mais leve atenção, entregamo-nos
Como quem surge da bruma, sem alguma inquietude
descarregamos o fardo das intempéries nos tordos recantos.

Foi o amanhecer de Primavera manhã
Alisamos o cansaço da pele
de chuvas e ventos
Sentamo-nos lado a lado,
e foi viver os aromas da estadia.

Dêmo-nos ao coração singelo
Incendiou-se melodias
já esquecidas, da água e do fogo
Encorajamo-nos a preservar
A não sofrer amarga morte.

Diante dos nossos olhos, estenderam-se caminhos
que conduziam à vida
Abraçamo-nos.
Um ao outro num abraço demorado
Poderosa luz que infundiu nos nossos lábios.

Com olhos d´ água e fogo d´alma
caminhamos até ao horizonte
Pedimos uma última palavra:
- Com que nome poderemos recordar-nos?

Quase sem voz
acenamos um adeus
E, desde então nossa vida tem sido apenas
Esperar por nós, sabendo-nos ressuscitados.
Foto by: Maria-trava-flor