sexta-feira, 8 de junho de 2007

Mar de chamas

Sinto um calafrio de chamas me chamando
no avesso da minha alma obscurecida numa tela invisível
Quem perguntará ao meu frio pela brasa que me queima a alma?
Porque sempre saberei sem saber o que é um mar de chamas interrompido

Nele permanecem o medo, as minhas insensatas perguntas
como estas lágrimas em debandada por labirintos de fumo
nas quais jaz a nudez branca do meu corpo por ti inflamado

No fim digo: que se passa? quem chama por mim?
Ninguém responde na obscura inquietude do meu funeral de cinzas
que ainda me atrevo a respirar.

Foto: Maria-treva -flor

segunda-feira, 4 de junho de 2007

A água que o fogo desejou


Em jubilo queimo-me em teu corpo como se fosses o meu único destino
Vertigem prodigiosa que me eleva a um céu de fogo erguido
Fundem-me com a noite constelada e não posso saber se és definitivo
ou fogo fugaz que me acende onde sem perdão penetro e me diluo
até encontrar a selvática dor de um vazio.
"Igne Natura renovatur intregrum"
(e pelo fogo toda a Natureza se renova)
Foto de: Maria-treva-flor

domingo, 3 de junho de 2007

A persistência da memória




Este velho hábito de me esquecer de te esquecer
De me perder nas sombras dos teus olhos


  • Cair dentro de mim, aos tombos com a destreza nova de uma fadiga antiga


    Cair desenganada, cair no desconhecido
    No infinito do nunca, no nunca que não se agarra e que não se pode ter


    Olhar a distância, desvirtuando a consciência
    Sentir a ausência do tempo em meus descompassados passos


    Esquecer um passado cuja persistência estimula o desenterrar da memória que nunca me esquece.

Foto de: Maria-treva-flor