Sinto um calafrio de chamas me chamando
no avesso da minha alma obscurecida numa tela invisível
Quem perguntará ao meu frio pela brasa que me queima a alma?
Porque sempre saberei sem saber o que é um mar de chamas interrompido
Nele permanecem o medo, as minhas insensatas perguntas
como estas lágrimas em debandada por labirintos de fumo
nas quais jaz a nudez branca do meu corpo por ti inflamado
No fim digo: que se passa? quem chama por mim?
Ninguém responde na obscura inquietude do meu funeral de cinzas
que ainda me atrevo a respirar.
Foto: Maria-treva -flor
sexta-feira, 8 de junho de 2007
segunda-feira, 4 de junho de 2007
A água que o fogo desejou
Em jubilo queimo-me em teu corpo como se fosses o meu único destino
Vertigem prodigiosa que me eleva a um céu de fogo erguido
Fundem-me com a noite constelada e não posso saber se és definitivo
ou fogo fugaz que me acende onde sem perdão penetro e me diluo
até encontrar a selvática dor de um vazio.
"Igne Natura renovatur intregrum"
(e pelo fogo toda a Natureza se renova)
Foto de: Maria-treva-flor
domingo, 3 de junho de 2007
A persistência da memória
Este velho hábito de me esquecer de te esquecer
De me perder nas sombras dos teus olhos
- Cair dentro de mim, aos tombos com a destreza nova de uma fadiga antiga
Cair desenganada, cair no desconhecido
No infinito do nunca, no nunca que não se agarra e que não se pode ter
Olhar a distância, desvirtuando a consciência
Sentir a ausência do tempo em meus descompassados passos
Esquecer um passado cuja persistência estimula o desenterrar da memória que nunca me esquece.
Foto de: Maria-treva-flor
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