quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Chegada do inesperado


Não tenho voz
Nem tão pouco trago guitarra
É tudo um sonho eterno
ou um reflexo do nada
Onde sou apenas um rosto
ou uns olhos abertos sobre o abismo
que, contemplam a minha chegada.
Foto by: Maria treva flor

sábado, 8 de dezembro de 2007


Instantes

... E tudo permanece em silêncio
enquanto estremece o momento.
Sabores densos a prados ou maçãs verdes
flutuam na luz matinal mal filtrada
São palpitações novas de vertigens sentidas
Observo-o indiscreta ou por sensual apetite suas formas esbeltas.
Céus! Parece um Apolo de porte Dionisíaco
livre, despido e de corpo solto.
É um corpo que amanhece da noite que agora acaba
e pelo seu sol deslizo com o resvalar do beijo fresco da manhã.
Há algo suave, quase feminino no seu rosto,
apesar da barba por fazer e a firmeza que desenha seu musculado corpo
seu peito, seus quadris - percorro.
É pecado pela certa. Como resistir?
É o éden, é paixão que apalpa,
o sentido desnudado do tumultuoso latejar do coração,
ao fazer-se amor que assegura um mundo que começa...
..aqui, onde tudo permanece em silêncio
enquanto estremece o instante.

Foto by: Maria treva Flor

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Quando as borboletas deixam de esvoaçar no estômago


Vais embora?
Não vás ainda, imploro.
Não fujas nesta hora despida
Olha-me na íntima angústia
Dá-me vida, dá-me morte,
Não me deixes no limbo
Deita-me no esquife e corre os ferrolhos
Aqui tens a chave, usa-a
Balanceia-te no perfume agridoce da morte
Outorga a minha inocência mumificada
Não és tu o meu anjo, o meu demónio
O risco e o feitiço de um tão esquivo amante?
Então fica. Celebra a minha morte.

Foto by: Maria treva flor

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Na rota do ser


Deita-te nú sobre a pedra tumular do meu peito
Empenha-te a agasalhar mais além dos limites,
nos odores inquietantes dos púcaros dispersos
Bebendo no frenesim, ao cair nas suas águas livres,
envolto em sonhos inacabados.

Ultrapassa-te, faz-te sonho
Num sonho sem fundo,
percorre-o e fecunda-o comigo
Onde estou? Acaso morri entre meus sonhos?

R.I.P.
Foto by: Maria-treva-flor

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Manifesto de silêncio



Avança lentamente
um passo mais.
Encontremo-nos talvez
nos umbrais deste poema.

Nega-o, apaga-o
ainda não se fez.

Apenas tu e eu
no silêncio de um possível verso.


Deixa,
Que o silêncio emane o teu silêncio
e que uma inquietude te traga, o meu silêncio
Com o mundo que interpretas
para que humildemente eu te sirva, a interrogação:
Calada
Secreta
Sem palavras.

Na imanência oculta que nos atrai
a substância atónita da alma.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Diálogo de vultos



- Onde estamos?
- Estamos mortos.

E sem prestar a mais leve atenção, entregamo-nos
Como quem surge da bruma, sem alguma inquietude
descarregamos o fardo das intempéries nos tordos recantos.

Foi o amanhecer de Primavera manhã
Alisamos o cansaço da pele
de chuvas e ventos
Sentamo-nos lado a lado,
e foi viver os aromas da estadia.

Dêmo-nos ao coração singelo
Incendiou-se melodias
já esquecidas, da água e do fogo
Encorajamo-nos a preservar
A não sofrer amarga morte.

Diante dos nossos olhos, estenderam-se caminhos
que conduziam à vida
Abraçamo-nos.
Um ao outro num abraço demorado
Poderosa luz que infundiu nos nossos lábios.

Com olhos d´ água e fogo d´alma
caminhamos até ao horizonte
Pedimos uma última palavra:
- Com que nome poderemos recordar-nos?

Quase sem voz
acenamos um adeus
E, desde então nossa vida tem sido apenas
Esperar por nós, sabendo-nos ressuscitados.
Foto by: Maria-trava-flor

domingo, 30 de setembro de 2007

Esquecer-te é esquecer-me de mim


Como vou esquecer-te se ao esquecer-te serei uma ruga mais
que se inscreve no rosto do cansaço
Uns passos sem rasto, uma inerte lembrança
a viver no escuro sob a noite pétrea sem espera e sem alma.
Com a obstinada pena, longe da ascensão dos sentidos
quando a vida ardia a quatro braços.
E, fazia resnascer em mim todo um universo, na certeza do percorrer do teu corpo azul relâmpago, que me cravava ao chão e arrancava pedaços ao céu.
Como vou esquecer-te se ao esquecer-te serei uma rugosa estátua de areia mordida pelo tempo
que no aberto espaço não te esquece, desejando sem calma a ineficácia das horas.
Insanidade do tempo, como se fizesse esquecer o que se soube viver e não se quer escapar.
Como vou esquecer-te se ao esquecer-te é esquecer-me de mim?
E, contarei as rugas que se vão pondo.