sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Quarto crescente



Vem,
Vamos juntos.
A noite chega devagar e estende-se pelos céus,
parece uma criança adormecida a éter sobre a mesa.
Vem,
Vamos juntos.
Por mares incertos que são o refúgios das almas murmuradas.
Passeiam-se por aqui e por além,
como uma névoa que esfrega as vidraças,
passa a língua dentro dos recantos encantos.
Pois já conheço todas,
Conheço bem.
Sei das noites que esvaem as almas em breve agonia
abafadas no vazio de um quarto mais além.
Pois já conheço todos
Conheço bem.
Sei dos quartos minguantes que reduzem a fómulas e olhares,
por todo o horizonte nocturno, aniquilado,
que estreita o medo como uma gelada agulha célere no sangue.
Sei do grito, um grito só, um grito,
antes da lucidez do salto.
E, quando fores salto apenas,
mesmo à beira de ti.
Vais dormir em quarto crescente, a meu lado.
Foto: Maria-treva-flor

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Aos quatro cantos


Primeiro canto - Vem a borboleta da noite ao relento
Brilha com seu diadema de estrelas
Solta as asas douradas nos céus
Abre a claridade dos batimentos que se propagam
Na noite espectral, despertando os seres noctívagos
Onde tudo é rumor, olhar, inumeráveis palpitações
Cumpre-se a luz no seu Zénite em reluzente desnudar
Como se dormisse levemente, entrelaçada, atenta
ao vibrar presente de apenas uma borboleta.
Segundo canto - Tudo é acariciado pelas tuas mãos.
Surpreende-me e assobia ao meu ouvido
Abre a tua chaga de mil cantos
com esta aliança pura de sangue que te reclama
Como se fosse uma conturbada nota que muda de tom
Não é dor. É doçura, é amor que te enlaça por inteiro
ao roçar numa delícia ténue que jamais poderás esquecer
Pacto sagrado, elevado ao canto confidente que me imola.
Terceiro canto - Porque pensaste conhecer-me
na tua solidão desamparada
Mas o fogo é espaço que nos olha e nos despe
que altera a matéria e o destino
Não estranhes pois,
que eu cante no denso e tão breve clamor de um pavio
Raptando instantes de vida, para viverem comigo a minha vitória.
Quarto canto - Cascatas de amor parecem me deter
Um obstáculo de fontes precipitam-se
Brincam indolente com o fogo que se avizinha
Quem desposou a água com o fogo
Ungidos de terra e vento agreste
Para fecundá-los com um amor rebelde?
Foto: Maria-treva-flor